quinta-feira, 29 de maio de 2008

Ajudando Ceilândia

Um verso do grupo brasiliense de rap Câmbio Negro, entoado no início dos anos de 1990 em Ceilândia, inspirou um grupo de adolescentes moradores da cidade. A música, que dizia “sou negão careca da Ceilândia mesmo, e daí?”, mexeu com a auto-estima dos garotos. Eles perceberam que deveriam tomar uma atitude para mudar seu destino. Na época, estavam prestes a concluir o ensino médio e não sabiam o que fazer ao deixar a escola. Não queriam ficar subempregados e menos ainda seguir o caminho das drogas e da criminalidade, como faziam muitos colegas. Pensavam que, um dia, poderiam se orgulhar de terem nascido e crescido em Ceilândia em vez de repetirem estereótipos.

E foi na cultura hip-hop que o grupo encontrou um caminho. Os rapazes passaram a organizar oficinas de música e canto (rap), dança (break), discotecagem e artes plásticas (grafite) nas escolas de ensinos médio e fundamental da cidade. Ficavam dois meses em cada uma delas e envolviam os alunos com a proposta. Dessa forma, a pichação se transformou, aos poucos, em grafite e os estudantes passaram a ter um objetivo de vida. “Queremos que o jovem veja que ele pode ter uma escolha”, afirma Sérgio Nascimento, 29 anos, um dos organizadores do movimento.

Em 1997, a iniciativa virou ONG e foi batizada de Grupo Atitude. Hoje, o grupo tem uma sede, uma casa em Ceilândia Sul, equipada com estúdio de gravação e ensaio, ilha de edição, serigrafia e biblioteca. Os jovens mantêm ainda uma rádio na internet e trabalham sobre quatro pilares: incentivo à cultura, ao hip-hop, à leitura, ao esporte e à geração de renda. “Para o jovem não ser atraído para o delito, ele tem que ser seduzido por outra coisa. Ceilândia não tem cinema ou teatro e os jovens se vêem sem escolhas à medida que vão crescendo”, diz Sérgio, que coordena o Atitude. O grupo atende cerca de 350 ceilandenses, com idades entre 10 e 24 anos.


Fonte: Correio Braziliense

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